Primeira mulher a conquistar um título internacional para o Brasil na modalidade anseia subir ao pódio na França
(Foto: Rosele Sanchotene/CBE)
Fato&Ação Comunicação – Assessoria de Imprensa da CBE
Experiente, talentosa e com história na paraesgrima brasileira. Assim é Mônica Santos, que em Paris disputará pela terceira vez uma edição dos Jogos Paralímpicos. Aos 41 anos, a gaúcha de Santo Antônio da Patrulha busca fazer mais história e colocar em seu currículo a medalha paralímpica que lhe falta.
Mônica foi a primeira mulher brasileira a conquistar um título internacional da modalidade – o Regional das Américas de 2015, em Montreal, Canadá, no florete. No ano seguinte, repetiu a dose na edição de São Paulo da competição, na qual também faturou uma medalha de bronze. Além disso, possui uma comovente história de vida.
“Eu tinha uma vida bastante agitada: jogava futebol, andava de bicicleta, a cavalo. Quando me tornei cadeirante, sabia que precisava continuar praticando esporte, mas adaptado, para funcionar como uma válvula de escape para o dia a dia”, relembra.
Prova de amor
A forma como Mônica se tornou cadeirante é comovente. Aos 19 anos de idade, no período de gestação de sua filha, ela realizou um cateterismo durante sua internação e foi diagnosticada com um angioma medular. Informada sobre os riscos que corria – seria preciso interromper a gestação e realizar uma cirurgia para não comprometer os movimentos das pernas -, ela escolheu prosseguir com a gestação.
“Tinha 19 anos e, de repente, não conseguia mais andar. Não consegui levantar da cama. Procurei um médico, realizei exames, mas os resultados ainda iriam demorar um pouco a sair. Então, para nossa surpresa, eu e meu marido descobrimos que eu já estava com cinco semanas de gestação. Foi uma felicidade para nós, mas houve outros exames do problema da locomoção que não pude realizar, pois comprometeria a gestação. Após esse período, fiz um cateterismo e descobri o angioma medular”, diz Mônica, prosseguindo em sua narrativa:
“O angioma estava comprimindo minha coluna, e se agravava a cada dia. Eu e o bebê corríamos risco de vida. Então, a opção seria interromper a gestação e fazer uma cirurgia, mas descartei de imediato. Queria muito ter minha filha. Tive uma conversa do Deus e decidi assumir a responsabilidade pela minha escolha. Paola hoje tem 21 anos, é saudável, e eu somente fiquei paraplégica. As pessoas me perguntam: ‘Somente paraplégica?’ Quando fiz a cirurgia, oito meses depois do parto, tinha grandes chances de ficar tetraplégica ou até mesmo falecer. Mas, como não tirei uma vida com minha escolha, Deus decidiu me poupar”, relata.
Já na cadeira de rodas, Mônica adquiriu expressiva independência motora para cuidar da filha. A paraplegia, devido ao seu esforço e dedicação, lhe permitia interagir com a filha. Ela reaprendeu a ser independente. “Digo que minha filha foi o meu anjo quando fui para a cadeira de rodas”, conta Mônica, sem esconder a emoção.
O esporte
Para dar prosseguimento à sua readaptação, Mônica Santos foi à procura dos esportes adaptados. Com em sua cidade não existiam opções, ela teve que ir a outros lugares em busca do que procurava. De início, sua opção foi o basquete em cadeira de rodas.
“Em Santo Antônio da Patrulha não havia esportes adaptados. Fui para Canoas, onde comecei a praticar basquete em cadeira de rodas. Fiquei por três anos e lá conheci o Jovane (Guissone), que jogava basquete visando melhorar seu condicionamento físico para a esgrima, que ele já praticava em Porto Alegre. Contudo, em Canoas, havia somente homens praticando a paraesgrima.
“Jovane me incentivou a trocar de esporte. Disse que em Porto Alegre, onde ele praticava, havia duas meninas que treinavam esgrima e sugeriu que eu fosse para lá experimentar. Fui e gostei. Logo no início, fui competir em Curitiba e, com vinte dias de treino, já ganhei uma medalha de bronze. Foi aí que descobri que levava jeito e poderia me dar bem nesta modalidade”, conta.
Mônica afirma que a esgrima a ajudou muito, não apenas física e mentalmente, mas também dando visibilidade à sua história de vida: “Comecei a ter bons resultados no esporte de alto rendimento e as pessoas começaram a enxergar não só a Mônica cadeirante, mas a Mônica esgrimista. Em cima ada cadeira de rodas, praticando esgrima, conheci cerca de 19 países. A esgrima me fez encontrar acessibilidade, qualidade de vida”.
Dentre os países que conheceu, está a França, onde Mônica disputará sua terceira edição de Jogos Olímpicos. Realizou estágios de treinamento no país, em Nice. “Treinávamos pela manhã, à tarde e à noite. Era um ritmo intenso, puxado, mas muito útil. O pessoal de lá é muito legal”, relembra.
Hábil nas três armas, Mônica Santos lidera o ranking nacional na espada B, florete B e sabre B. Sobre sua expectativa para Paris é disputar uma competição bem diferente da que teve oportunidade em Tóquio-2020.
“Em Tóquio foram Jogos muito apagados, sem público por causa da pandemia. No ginásio, só escutavam os gritos que costumo dar quando estou competindo. Agora, em Paris, será uma coisa mais calorosa, com muita gente presente, torcendo. Minha expectativa é muito grande, estou bem focada. Quem sabe não vem uma medalha”, anseia a campeã no esporte e na vida – que, segundo ela, é feita de escolhas.
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