Guilherme Toldo sobre o Pan no Rio: “Jogar em casa sempre me favoreceu”:

Guilherme Toldo durante sua quarta participação nos Jogos Olímpicos em Paris-2024 (Eva Pavia/BizziTeam)

Por Maria Beatriz Comunello

Aos 32 anos, Guilherme Toldo está consolidado como o principal nome do florete masculino brasileiro. O atleta, que soma uma década e meia de experiência internacional, chega ao Campeonato Pan-Americano com uma bagagem de quatro participações olímpicas.

A poucos dias do início do Campeonato Pan-Americano, ele falou sobre preparação, as expectativas sobre o torneio e o entrosamento com a equipe. Confira a entrevista na íntegra:

Como está sendo a sua preparação para o Pan-Americano? Houve alguma alteração no treino em específico para essa competição?
Guilherme Toldo: O Campeonato Pan-Americano é uma competição muito importante. Acho que não é de agora, não é o momento pós-olímpico que diminui ou aumenta o valor dessa prova. Desde que comecei a me dedicar profissionalmente à esgrima, sempre reservei uma atenção especial ao Pan, justamente pela relevância que ele tem no calendário.

É uma competição contra adversários do continente americano, com quem temos um pouco mais de contato, que conhecemos melhor. Então, por ser uma prova que vale bastante ponto para o ranking mundial, que tem essa relevância, e também pela questão dos adversários que vamos encontrar, há toda uma preparação específica – até por ser uma competição de fim de temporada. Isso exige todo um tratamento especial em dedicação e treinamento voltado para o Pan.

Mas eu estou bem acostumado. Meus mais de 10 anos de experiência nessa prova me permitem chegar numa condição bem legal. Eu estou me dedicando dessa forma, fazendo os treinamentos mentais, os treinamentos específicos e estou me preparando bem para esse momento.

Você tem uma carreira marcada por grandes conquistas e anos de experiência. São quatro olimpíadas no currículo, é o maior medalhista da esgrima brasileira em Jogos Pan-Americanos e a principal referência do florete masculino. Como você concilia a expectativa de grandes resultados com o prazer de competir? 

Guilherme Toldo: Bom, essa expectativa, essa pressão externa, eu entendo. Acho que ela é bem normal. Eu acho que eu não tenho nenhum problema quanto a isso, até porque a pressão interna que a gente sente como atleta, que é muito maior daquela externa, é muito mais fácil de controlar porque são questões internas nossas.

Influências externas a gente tem que saber lidar. Eu acho que eu tenho bastante experiência com isso, já participei de provas importantes no Brasil e também de provas decisivas que eu consegui me comportar bem e em outros momentos, me comportei mal. Então, eu tenho uma bagagem interessante de erros e acertos que está me levando nessa condição de chegar com bastante experiência. E eu sei que isso é normal: a expectativa das pessoas. Eu acho que isso demonstra o carinho que elas têm pela gente, que elas gostam da gente. Isso mostra que elas acham que a gente tem condições de alcançar o resultado e eu fico aproveitando a parte boa sobre isso, justamente sabendo desse compartilhamento de vitória que as pessoas têm e tudo mais. Já sobre a minha pressão interna, eu administro nesse momento para poder apresentar a melhor performance em pista.

O fato de a competição ser realizada no Brasil traz alguma diferença para você?
Guilherme Toldo: É bem legal porque é no Brasil, e isso faz toda a diferença. Acho que jogar em casa sempre me favoreceu. Eu me sinto bem à vontade nas provas nacionais e internacionais realizadas aqui. Joguei um Sul-Americano quando era juvenil e também os Jogos Olímpicos no Brasil. Sempre me senti bem à vontade. A atmosfera, o ambiente, tudo isso faz eu me sentir à vontade.

E como eu falei, dentro dessas experiências que tive em competições no Brasil, cometi erros e acertos que acho que vão me ajudar agora. Principalmente por ser uma prova importante, e por acontecer aqui, no Brasil. É o início de um novo calendário, de um novo ciclo olímpico e entender esse contexto e já estar me preparando para ele é, na minha visão, um passo à frente em relação aos meus adversários. Eu acho que vou usar isso a meu favor e, enfim, aproveitar bastante essa competição.

A equipe com quem você vai competir já é uma formação com a qual está acostumado?
Guilherme Toldo: É uma equipe jovem, no sentido de que a maioria dos atletas – somos em quatro -, só eu sou mais experiente. Os outros têm menos de um ciclo olímpico, então é relativamente novo. Estamos jogando juntos há cerca de um ano, e ainda não exatamente nessa formação. Mas durante esse ano que a gente treinou, que a gente fez as competições, a gente conseguiu já aproveitar alguns momentos, algumas experiências, entendeu? A gente conseguiu somar bastante coisa juntos. E sabemos que, para o bom funcionamento de uma equipe, é preciso intimidade, é preciso ter um bom relacionamento e isso a gente tem. Claro, ainda temos muito a desenvolver, muito a somar dentro desse contexto de equipe, mas essa formação mais nova também traz um lado positivo: tem o fator surpresa, o entusiasmo, de estarmos jogando juntos no Brasil, com uma equipe jovem. Então, apesar de ainda não estarmos jogando há muito tempo, acho que essa ‘parte cheia do copo’ nos dá boas chances de competir em alto nível e brigar por medalhas.

O Campeonato Brasileiro, que aconteceu agora entre os dias 13 e 16 de junho, foi parte da sua preparação para o Pan?
Guilherme Toldo: Com certeza, com certeza. Eu sempre falo que, dentro da minha ótica, as competições nacionais servem para selecionar os melhores atletas do Brasil. E, justamente dentro desse contexto de querer melhorar os resultados do país no cenário internacional, que é onde estão nossos maiores sonhos e ambições como atletas, são essas provas que nos preparam.

As provas nacionais funcionam como etapas preparatórias para o circuito mundial. Eu vejo o campeonato nacional exatamente assim: como um espaço de formação, de construção dos melhores atletas que vão representar o Brasil internacionalmente. Quando se trata do Campeonato Brasileiro, que é um título importante de vencedor nacional daquela temporada, existe também esse peso. Então, por mais que seja uma prova preparatória, para esses próximos desafios internacionais, como Pan-Americano e mundial, também é uma prova que permite ver o nível de competitividade, de poder dar o máximo e sair com o título, porque reforça também a continuidade do treinamento e demonstra a capacidade de conseguir um resultado importante na temporada. 

O que podemos esperar do florete masculino brasileiro no Pan?
Guilherme Toldo: O que se tem, com certeza, é bastante dedicação. Eu vejo que a equipe do Florete Masculino e eu, a gente se dedica bastante ao esporte e à equipe. Todos os resultados que adquirimos, que são relevantes dentro do contexto da Confederação, são importantes para fortalecer essa imagem do florete masculino que a gente vem construindo já há bastante tempo, com uma equipe que começou há vários anos atrás. Então, com certeza a gente pode contar com a nossa dedicação, com o nosso empenho para conseguir medalhas e poder atingir o melhor resultado.

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