Nossos Clubes, Nossos Mestres – Das dificuldades no Ibirapuera, começa a trajetória da Escola Abel Melian

No momento em que tanto se fala sobre a demolição do complexo paulista, conheça a escola de esgrima que nasceu exatamente das dificuldades no Ibirapuera

Inauguração do novo espaço da Escola Abel Melian. Foto: Arquivo Pessoal.

21 de dezembro de 2020.

Por: Fato&Ação Comunicação

O cubano Abel Melian era um professor que dava aulas de esgrima no Ginásio do Ibirapuera, em 2008. Época em que todas as Federações de São Paulo, inclusive a de esgrima, tiveram de cessar as atividades no emblemático local, que hoje é motivo de grandes discussões sobre sua demolição. Na segunda reportagem da série “Nossos Clubes, Nossos Mestres”, vamos conhecer a Escola de Esgrima Abel Melian, que surge exatamente do momento de maior dificuldade do profissional.

A opção, naquele momento, era se mudar para o Parque da Água Branca ou encontrar outra sede. Abel tentou, em vários clubes, que desejavam que as aulas fossem só para os sócios. A solução foi alugar um espaço par dar aulas. A esposa, Rosa, comprou a ideia e se tornou sua sócia. Em 5 de janeiro de 2009, era inaugurada a escola, em um espaço na Vila Mariana, com 30 alunos.

Antes da pandemia, já eram 70 alunos. A escola cresceu, mudou-se para um espaço três vezes maior, no bairro do Ipiranga. Abel também é professor em grandes escolas de São Paulo. Trabalha com crianças a partir dos 6 anos, adultos, idosos e cadeirantes.

“Nossa escola é bem familiar, as pessoas fazem amizade, sentem-se acolhidas aqui. Outra característica de nossa EPD é o primor pela técnica. Sou perfeccionista, corrijo tudo. Quando as pessoas percebem que, quanto melhor elas jogam, mais elas se divertem, elas me agradecem pelo meu detalhismo”, diz Melian, orgulhoso.

Cerca de 20% dos alunos da Escola participam de competições, mas a maioria pratica esgrima como hobby. O projeto não parou na mudança de espaço dentro de São Paulo. O objetivo é implantar a esgrima no interior do estado, futuramente.

Abnegado pela esgrima e defensor das regras

Abel Melian enche o peito para dizer: “Vivo exclusivamente da esgrima”. Ele se formou em Cuba e há mais de 30 anos trabalha com o esporte. “É muito gratificante conversar com alunos e ex-alunos que estão espalhados pelo mundo e ver que eu consegui plantar a sementinha da esgrima em cada um deles. Alguns ainda praticam, outros pararam, mas ainda acompanham os eventos”, diz o mestre.

Em sua trajetória, a experiência como árbitro internacional. Ele atuou nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio-2016. Ele acredita que este tipo de experiência o deixa atualizado com o que está acontecendo. “O esporte é dinâmico, vai se adequando às novas tecnologias, às descobertas da biomecânica, ao estilo de jogo dos atletas”, ressalta.

Quando tocamos no tema dificuldades das regras da esgrima, ele faz uma observação pertinente. “Alguém já pegou o regulamento do futebol para ler? É enorme, e complexo. Por que dá tanta confusão com o VAR? Porque arbitragem é uma questão de interpretação. Como o brasileiro está mais acostumado com o futebol, ele acha que é mais simples. Se as pessoas estivessem acostumadas a ver competições de esgrima na TV, todo final de semana, elas achariam bem mais simples”, diz o professor.

Abel Melian acredita que assistir aos jogos de esgrima é fundamental para qualquer atleta de alto nível. E faz sua recomendação: “É importante também para ampliar seu repertório. Como usar seu conhecimento de forma criativa, inesperada, que surpreenda seu adversário. Acompanhamos o movimento da esgrima, no sentido de tendências, como a moda. O que os atletas estão usando, que técnicas não estão sendo mais utilizadas, o que está sendo deixado de lado, em detrimento de outras ações mais eficazes”, finaliza o mestre.

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